FAMÍLIA
Relação pais-filhos. 01.
«Os pequenos estão muito bons – muito quietos à mesa. Conversam, discutem, grulham, mas com a máxima serenidade. É o caso de empregar a velha expressão “nem parecem os mesmos”. O Bebert [Alberto] sobretudo é a própria mansidão. Não teve uma perrice, não fez um distúrbio. Ao jantar come com muito apetite, dá a sua opinião sobre os assuntos e lê o Temps alto, com convicção, numa voz de teatro. Tudo isto tem sido o resultado de firmeza e doçura. Comecei por lhes fazer um sério discurso – aquilo que nos quartéis se chama da “teoria”. Depois passei a algumas aplicações práticas provando que estava disposto a ser inexorável. Imediatamente reinou uma ordem deliciosa.» (01, p. 384)
Numa circunstância rara da vida de casal, Eça de Queiroz está em
casa, em Paris, sozinho com os
filhos rapazes. Corre o ano de 1899, entrara 8 dias antes o mês de Agosto. A esposa Emília e a filha Maria estão
fora, em Bourbonne-ls-Bains, em tratamentos para o reumatismo. Alberto – o
Bebert -, o filho mais novo, tem 8 anos; os outros têm 11 e 9.
O escritor com os dois filhos mais velhos: Maria e José Maria |
Sabemos, por senso-comum, que, mesmo em famílias em que ambos os
pais estão regularmente presentes e em sintonia um com o outro, os filhos têm
comportamentos diferentes quando estão só com um deles, seja por pouco ou muito tempo. No caso dos
filhos de
Eça de Queiroz, a figura habitualmente presente, que garante a estabilidade
afectiva e os cuidados à prole, é a mãe.
Pelo que Eça diz, podemos pensar que os filhos seriam, como diz a gente do povo, “frescos”,
traquinas, travessos. De notar é a intenção que o pai expressa à mãe de que o estilo educativo seja composto de “firmeza”, mas também de
“doçura”.
Nem sempre o progenitor que se ocupa habitualmente com as crianças
reage bem aos aparentes sucessos do outro progenitor, bastante mais
ocasional na liderança dos cuidados educativos dispensados aos filhos. Quantas vezes pequenos
desacordos, pontos de vista divergentes, conversas que ficam por acabar, são
rastilho para silenciosos, mas crescentes, desentendimentos entre o pai e a mãe, e, consequentemente, o enfraquecimento da tarefa educativa
comum…
No caso de Eça e Emília, a reacção da mãe dos rapazes é notável,
por isso, exemplar. Responde ela, como legenda
a filha Maria, mais de 70 anos depois, “com um ligeiro tom de ironia muito terna”:
«Estimo imenso que eles (os pequenos) tenham juízo – pelas tuas cartas parece mesmo que é uma conversão – que espero encontrar em pleno vigor! Faz-me imensa ternura o Alberto lendo o Temps com voz de estertor! Coitadinho! Deus queira que o encontre com o seu narizinho sem restos do trambolhão. Maria quer para ti des caissons de baisers, d' amour, de tendresse! entrego! E ainda: Como estás de saúde?” (01, p. 385-386)
Palavras-chave: estilos
educativos, relação pai-filho,
relação pai-mãe
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(1) 01 – Eça de Queiroz entre os Seus, apresentado por sua filha – Cartas íntimas. Lello & Irmão Editores, Porto, 1974.
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(1) 01 – Eça de Queiroz entre os Seus, apresentado por sua filha – Cartas íntimas. Lello & Irmão Editores, Porto, 1974.
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