O valor das suas próprias palavras

“Temos depois que as cartas de um homem, sendo o produto quente e vibrante da sua vida, contêm mais ensino que a sua filosofia – que é apenas a criação impessoal do seu espírito.” (in A Correspondência de Fradique Mendes)
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terça-feira, 12 de julho de 2016

A MENTE E O QUE A MOVE - QUERER É MESMO PODER? O papel determinante da curiosidade. 01.

A MENTE E O QUE A MOVE - QUERER É MESMO PODER?
O papel determinante da curiosidade. 01.
«A curiosidade, instinto de complexidade infinita, leva por um lado a escutar às portas e por outro a descobrir a América:- mas estes dois impulsos, tão diferentes em dignidade e resultados, brotam ambos dum fundo intrinsecamente precioso, a actividade do Espírito.» (Eça de Queiroz, Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós, Textos de Imprensa V (da Revista Moderna), Eduardo Prado. Lisboa, INCM, 200513, p. 120)
A crónica Eduardo Prado foi publicada em 1898, em fase de sofrimento já especialmente crónico do escritor.
A curiosidade foi a irresistível sede de saber que, com a simbólica tentação de Eva, fez a Humanidade inteira perder o Paraíso.
A curiosidade foi a fascinante força infantil (Eça tem razão, é uma coisa instintiva) que prendeu o psicólogo suíço Jean Piaget ao labor que lhe permitiu construir, tijolo a tijolo, um tremendo edifício de conhecimento sobre o desenvolvimento da mente infantil e da inteligência humana. A curiosidade desencadeia a acção, e da acção nascem as obras humanas. A curiosidade não é característica da espécie humana; mas - e mais uma vez Eça tem razão - é no ser humano que ela ganha "complexidade infinita".
Mais dois pequenos excertos da mesma crónica, e não preciso de comentar mais nada...
«O espírito porém que incita o homem a deixar a quietação do banco do seu jardim, a trepar a um muro escorregadio, a espreitar o jardim vizinho, possui já uma estimável força de vivacidade indagadora: - e a tendência que o moveu é essencialmente idêntica à tendência que, noutro tempo, levara outro homem a subir às rochas de Sagres, para contemplar, com sublime ansiedade, as neblinas atlânticas. Ambos são dois espíritos muito activos, almejando por conhecer o mundo e a vida que se estendem para além do seu horizonte e do seu muro.»
 O outro excerto:
«Mas ambos eles, o criador de civilização e o criador de escândalo, obedeceram à mesma energia íntima de iniciativa descobridora. São dois espíritos governados pela curiosidade, a vil curiosidade, como lhe chama Byron, com romântica ignorância... E de resto, sem essa qualidade vil, nunca o primitivo Adão teria emergido da caverna primitiva, e todos nós, mesmo o curiosíssimo Byron, permaneceríamos, através dos tempos, solitários e horrendos trogloditas.»
Afinal, não resisto a mais um pequeno comentário: será possível conter a curiosidade nefasta, "vil", "escandalosa"? Penso que sim - pela acção autorregulada da tentativa-erro; e pelo papel sábio desempenhado pela educação - em casa, na escola, nas comunidades de pertença.


Palavras-chave: curiosidade, pedagogia, motivação, ambição, educação, regulação dos comportamentos, autorregulação
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sexta-feira, 8 de julho de 2016

A ESCOLA, “p’ra que lado é que me viro, p’ra que lado" - A educação e a escola. 01.

A ESCOLA, “p’ra que lado é que me viro, p’ra que lado"
A educação e a escola. 01.
«Sobretudo nas aldeias é quase impossível atrair ao estudo, numa saleta tenebrosa e abafada, crianças inquietas que vêm do vasto ar, da luz alegre dos prados e dos montes. A escola não deve ter a melancolia da cadeia. Pestallozi, Froebel, os grandes educadores, ensinavam em pátios, ao ar livre, entre árvores. Froebel fazia alterar o estudo do ABC e o trabalho manual; a criança soletrava e cavava. A educação deve ser dada com higiene. A escola entre nós é uma grilheta do abecedário, escura e suja: as crianças, enfastiadas, repetem a lição, sem vontade, sem inteligência, sem estímulo: o professor domina pela palmatória, e põe todo o tédio da sua vida na rotina do seu ensino. (13, p. 113)» 
Que resiste, desta apreciação de Eça, aos mais de 100 anos que já passaram desde que, originalmente, o escritor assim escreveu em As Farpas?... Se calhar, bem mais do que seria de desejar… Vejamos:
- vivemos um tempo em que se volta a invocar com grande intensidade os nomes e os exemplos de Pestallozi e Froebel - sinais dos seus extraordinários exemplos de sensibilidade humana e cuidado pedagógico
- as crianças e os jovens, em todo o Mundo tal se constata, estão, maioritariamente, nas escolas, nas salas de aula, "enfastiadas", "sem vontade", e "sem inteligência"
- as grilhetas mantêm-se firmes, reguladas por complexos e muito limitadores normativos legais; limitadores para todos: os alunos, os professor e os pais
- o professor continua a dominar, sem a força da palmatória, mas com procedimentos autoritários e disciplinares , às vezes bem mais perversos que as palmatórias
- o tédio e a rotina grassam… quem não concorda?...


Palavras-chave: escola, pedagogia, motivação, ambiente escolar
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13 – Queiroz, E. Uma Campanha Alegre. Das Farpas. Vol. II. Lisboa, Companhia Nacional Editora, 1891. (http://purl.pt/23928/3/l-72582-v/l-72582-v_item3/index.html#/10)